sexta-feira, 25 de abril de 2014

Reju-Sul e Pasune: cerca de mil e quinhentas pessoas participam da Semana Internacional das Humanidades





Reflexão, emoção e engajamento da comunidade acadêmica marcaram a 1ª Semana Internacional das Humanidades, realizada pelo Centro Universitário Univates, em Lajeado. A atividade contou com parceiros, entre os quais a PASUNE (Pastoral Universitária Ecumênica), CECA (Centro Ecumênico de Capacitação e Assessoria), COMIN (Conselho de Missão entre Indígenas), FUMEC ALC (Fundação Universal dos Estudantes Cristãos – América Latina e Caribe) e a REJU Sul (Rede Ecumênica da Juventude – regional Sul). A iniciativa transcorreu entre os dias 7 e 11 de abril e contou com cinco palestras de notáveis personalidades. As propostas contribuíram para uma visão crítica da atualidade a partir de diferentes abordagens sobre Direitos Humanos. A qualidade do evento e a expectativa de público foram superadas pela organização. No total, cerca de mil e quinhentas pessoas, entre alunos, professores e comunidade em geral, participaram da Semana Internacional das Humanidades. 

A abertura oficial do evento ocorreu no dia 7. A mesa foi composta pela coordenadora da atividade e do curso de História da Univates, professora Maribel Girelli; coordenador da área de Humanidades, professor Daniel Granada; diretora do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas, professora Fernanda Brod; e reitor e pró-reitor de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação, professor Carlos Cyrne. Fernanda sintetizou em seu pronunciamento a importância da realização do evento em âmbito acadêmico. “A Semana Internacional das Humanidades vem com a proposta de promover discussões acerca de temas que vão além da formação. A área de humanidades está presente em todas as formações, pois queremos formar cidadãos, muito além da formação acadêmica”, disse.
A Semana Internacional das Humanidades foi mais um passo para a consolidação da Pasune e da Reju-Sul como parceiras da instituição. Alunas da Univates e também integrantes das organizações ecumênicas, Edoarda Sopelsa Scherer e Karen Daniela Pires colaboraram nos preparativos do evento, principalmente na indicação e recepção dos conferencistas. Facilitadora da Reju-Sul e coordenadora da Pasune, Edoarda destaca que a realização do evento foi importante pois cumpriu “o papel de enaltecer algumas das principais pautas e tensões em relação aos Direitos Humanos no Brasil, na América Latina e Caribe. O olhar da Acadêmica, em diálogo com pessoas militantes e estudiosos de distintos contextos, possibilita rever conceitos e criticar uma verdade que nos é colocada como uma realidade”.



Memória, Justiça e Verdade

A palestra do dia 7 foi proferida pelo representante civil da Comissão da Verdade, Anivaldo Padilha. Além de apresentar o trabalho da organização, que investiga casos de violação de direitos humanos durante a Ditadura Civil-Militar no Brasil, ele relatou o processo de exílio pelo qual passou durante 13 anos. “Atravessei a fronteira do Brasil com o Uruguai. Senti o alívio de estar vivo, mas surgiu a grande preocupação: de que maneira eu iria reconstruir a minha vida? Optei por transformar o exílio em outra frente de luta”, contou. Segundo Padilha, o Brasil vive um momento especial com a democracia, embora defenda que o autoritarismo seja um dos resquícios da ditadura. “Temos muito a avançar e cabe a essa geração assumir estas bandeiras”, destacou.


Direitos Humanos: Universalismo x Culturalismo



O doutorando da Universidade Metodista de São Paulo, Elton Vinícius Sadao Tada, palestrou no dia 8. Ao mesclar conteúdo e teorias filosóficas, Tada provocou reflexões na plateia. “Você vai pensar nos direitos daqueles que você considera humanos. O que a gente não conhece, a gente finge que não existe”, ressaltou. O palestrante propôs que os Direitos Humanos sejam repensados a partir das perspectivas do universalismo junto ao culturalismo, mesmo que sejam apresentados de maneira oposta, deve-se buscar este equilíbrio. A primeira tem a ver com questões ligadas à justiça e à racionalidade; já a segunda pressupõe o entendimento e respeito à cultura do outro sujeito.


Cuba e Colômbia: Olhares sobre Direitos Humanos na América Latina e no Caribe



Amplas e impactantes abordagens de Direitos Humanos em Cuba e na Colômbia marcaram a palestra do dia 9.  O contexto cubano foi explicado pela presidente da FUMEC ALC - Cuba, Sarahi Garcia Gomez; e o colombiano pelo mestre em Teologia e mestrando em Ciências Políticas, Maurício Avilez Alvarez. Sarahi destacou os avanços da ilha socialista em termos socioeconômicos, abertura de diálogo do governo com a população e as mudanças ocorridas após a Revolução Cubana de 1959. O movimento se notabilizou pela implantação de uma série de programas assistencialistas, sociais e econômicos, alfabetização da população e acesso à saúde universal.
Maurício apresentou o contexto histórico da política colombiana e das guerrilhas e relatou suas experiências como militante social. Apontou semelhanças e divergências do contexto colombiano com o atual panorama político-social brasileiro. Resquícios da ditadura também devem ser reconhecidos, atualmente, como as recentes militarizações das favelas do Rio de Janeiro. Está exilado no Brasil há oito anos.


Defesa dos Territórios x Garantia de Direitos


A conferência do dia 10 teve à frente o advogado e representante do MST no Rio Grande do Sul, Diego Vedovatto; representante da Liderança Indígena Kaingang, Francisco Rokã dos Santos; e o líder do movimento quilombola, Onir Araújo. A mediação das falas foi feita pelo professor doutor Luis Laroque. 
Na noite, foram abordados temas relativos à defesa de territórios, sendo ressaltado e questionado o conceito da propriedade, e, como a terra é cedida e para quem são determinados o uso e gozo, ao longo da história brasileira, em desfavor à presença indígena e quilombola, assim como as demandas da reforma agrária. Com intuito de desmistificar a articulação dos movimentos atuais houve relatos das experiências e quais os desafios que permanecem junto à função social da terra.


A maioridade penal

O encerramento do evento foi no dia 11 com palestra do professor de Filosofia da Universidade Metodista de São Paulo, Daniel Souza, e do Promotor de Justiça e professor de Direito da Univates, André Prediger.

Ambos manifestaram posição contrária à aprovação da maioridade penal para 16 anos de idade. Prediger destacou que diante do caos do sistema penitenciário brasileiro é impossível encarcerar um adolescente que comete atos infracionais. O Dr. André defende a aplicabilidade do Estatuto da Criança e do Adolescente, tanto na garantia de direitos como nas punições previstas. Para o promotor, a violência só será amenizada quando uma questão-chave for solucionada. “Enquanto não erradicarmos o problema de drogadição, esquece resolver a violência no país”, ressaltou. 


Souza conduziu sua explanação a partir do pressuposto do jovem como sujeito de direitos. Ele chamou a atenção para o extermínio de jovens no Brasil a partir de dados estatísticos. Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que mais da metade (53%) dos homicídios de 2010 no Brasil atingiram jovens, sendo 75% negros e 91% homens, com idade entre 20 e 25 anos. “O cerne da questão é a violência e o extermínio de jovens. Punir simplesmente é vingança, tem que haver políticas sociais. É preciso também superar o mito de que adolescente não é punido”, frisou o professor. Para Souza, os horizontes em relação ao tema da maioridade penal abrangem a efetividade das políticas sociais para garantia de direitos e o cumprimento das medidas determinadas pelo Eca.

Texto: Camila Pires
Fotos: Fernanda S. Scherer; Tiago Bortolotto.

Semana Internacional das Humanidades "Direitos Humanos: práticas e desafios"

Confira a programação:

REJU Sul integra organização da Semana Internacional das Humanidades "Direitos Humanos: práticas e desafios"

Com o objetivo de contribuir para uma visão crítica da atualidade com diferentes abordagens sobre Direitos Humanos, a Univates realiza, de 7 a 11 de abril, a Semana Internacional das Humanidades. A programação ocorrerá no turno da noite e será aberta no dia 7, no auditório do Prédio 7, com o evento “Memória, Justiça e Verdade”, que contará com a participação do representante Civil da Comissão da Verdade, Anivaldo Padilha – preso político na época da Ditadura no Brasil que viveu exilado por 13 anos e foi um dos fundadores da organização não governamental Koinonia Presença Ecumênica e Serviço.
O evento contará ainda com uma palestrante internacional, a presidente da Federación Universal de Movimientos Estudantiles Cristianos (Fumec) América Latina e Caribe – Cuba, Sarahi Garcia Gomez. Formada em Psicologia e Teologia, Sarahi irá proferir a palestra “Cuba: um outro olhar sobre os direitos humanos”. De acordo com umas das coordenadoras do evento, professora Maribel Girelli, os participantes poderão conhecer, a partir das temáticas abordadas, as diversidades sociais, políticas e culturais existentes e os diferentes processos de transformações da sociedade contemporânea.
Outros temas que serão abordados no evento são os Direitos Humanos nas perspectivas do universalismo e do culturalismo; a defesa de territórios e a relação com garantias de direitos; e a maioridade penal. As atividades serão oferecidas para os alunos matriculados nas disciplinas Temas Contemporâneos, Filosofia e Ética, Teoria da Política e do Estado, Sociologia e Antropologia, Sociologia nas Organizações, Sociologia Aplicada ao Direito, Sociologia da Saúde e outras que compõem a Área das Humanidades, além de todas as disciplinas do curso de História.
Além dos estudantes matriculados nas disciplinas de Humanidades, serão disponibilizadas 440 vagas para acadêmicos de outros cursos. As inscrições poderão ser feitas, em breve, pelo site www.univates.br/eventos. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (51) 3714-7000, ramal 5348.

Texto: Nicole Morás (10/02/2014)
Título adaptado.
Fonte: https://www.univates.br/noticias/12864-direitos-humanos-serao-abordados-na-semana-internacional-das-humanidades