quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Congresso Continental de Teologia - Um novo Congresso e um Congresso Novo


Jaiane Kroth*

                Sob a expectativa de ser um novo Congresso e um Congresso novo, o Congresso Continental de Teologia reuniu teólogos e teólogas da primeira, segunda e terceira geração da Teologia da Libertação. Entre leigas e leigos, religiosos/as, padres, bispos, jovens, o Congresso teve cerca de 733 inscritos,  de 33 países, durante os dias 07 a 11 de outubro, na universidade Unisinos, em São Leopoldo/RS. O tema foi os 50 anos do Concílio Vaticano II e os 40 anos da publicação do livro de Gustavo Gutiérrez intitulado “Teologia da Libertação”
            Com objetivo de discernir os novos desafios de uma época marcada por profundas transformações, a metodologia do congresso contou com diferentes painéis, conferencias, oficinas, apresentações de trabalhos cientifico, curta-metragens, e momentos de espiritualidade, e propiciou um espaço de diversidade entre os e as diferentes participantes. Os temas abordados nas oficinas e painéis discutiram diferentes temas que tangem a realidades dos povos latino-americanos e os povos oprimidos do nosso mundo.
O Concílio Vaticano II que teve seu inicio declarado no dia 11 de outubro de 1962, foi um profundo processo de revisão da Igreja Católica Romana e de abertura para a realidade do mundo. Olhar para o mundo e perceber suas necessidades, anunciar as alegrias e esperanças frente  as realidades de injustiça e de morte a que o mundo se encontrava. Na América Latina, o Vaticano II teve a chamada “recepção criativa” e, com as conferencias episcopais que se seguiram (Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida), afirmaram a opção da igreja Latino-americana e Caribenha pelos pobres.
            O Professor Dr. Libânio destacou que a Teologia da Libertação também é o resultado das novas ideias de Ser Igreja que o Concílio trazia para a América Latina somada a realidade de pobreza e exclusão que flagelava a vidas das pessoas em nosso Continente.  Afirma que três pontos inegociáveis para a Teologia da Libertação são a opção pelos pobres, a liberdade de hermenêutica e o seguimento ao Jesus Histórico.
Libânio comparou que a Teologia da Libertação é como Teseu que entra no labirinto para encontrar o minotauro. E Teseu ganha um fio, que nesta comparação Libânio diz que é de ouro, um fio de ouro que não o deixa perder-se dentro do labirinto. E ele escapa do labirinto porque o fio de ouro o salva.
Teseu é a Teologia da Libertação que entra no labirinto ao encontro dos muitos minotauros do nosso mundo, que perseguem e tentam matar essa teologia. Mas a TdL sabe por qual caminho voltar, sabe se defender porque tem o fio de ouro. E o que é esse fio de ouro para a Teologia da Libertação? Segundo Libânio é a opção pelas pessoas pobres. É a opção pelas pessoas empobrecidas que nos salva dos minotauros do mundo, e que nos mostra qual caminho devemos percorrer. É este fio de ouro que nos mantém coerente com o projeto de Jesus Cristo.
Geraldina Céspedes, em sua fala na conferencia inaugural do Congresso, afirmou que a Teologia Latino-americana e Caribenha é um tecido novo, e nos questionou com quais cores vamos pintar esse tecido. Também destacou que são diferentes as realidades e circunstancias que se apresentam em nosso continente, mais uma vez questionou como a teologia se relaciona com elas. “É preciso uma teologia mais lúdica e des-programada, transgredir para transcender,” destacou Céspedes.
O documento final Congresso reafirma que a Teologia da Libertação está viva e se adaptando as mudanças de tempo, existem gritos que não foram ouvidos plenamente pelo Vaticano II e pela TdL em seus inícios como as mulheres, os migrantes, povos originários e afro-descentes, a juventude, e outros rostos excluídos que emergem da invisibilidade. Certamente este Congresso marca uma nova etapa, e o desejo é que seja sob o signo da fecundidade, fidelidade, criatividade e alegria. Saem muitos sonhos para serem realizados, especialmente de que teólogas e teólogos jovens assumam essa tarefa deixada pelos teólogos/as da primeira geração. Como nos lembrou Gutiérrez que essa tarefa deve ser encarada com rigor, profundidade, e com doação de vida para as pessoas pobres.
Entramos e saímos do Congresso sabendo que somos contra ao Capitalismo Neoliberal que promove violência e exclusão mundial e que deixa camadas de pessoas as margens dos direitos básicos necessários a uma vida digna. Mas, de maneira especial, saímos com mais certeza de que muitas são as pessoas que acreditam que a Palavra Deus trás uma mensagem de resistência e esse sistema e que, a opção pelo seguimento a Cristo implica que também nos comprometamos com a superação desse sistema político-econômico. Assim como ficou impresso nas palavras do documento final, o sentimento que trazemos conosco deste Congresso é de que possamos seguir atualizando as demandas da Teologia da Libertação, aproximando-as sempre de uma prática eclesial comprometida com o povo. E que gravamos em nossos corações a profunda opção preferencial pelas pessoas pobres. Que sejam elas as destinatárias especiais da Boa Nova de Jesus Cristo. 


                                                                                                                     
*Jaiane, integrante da REJU Sul, (à Esquerda) com estudantes da Faculdade EST com Peter Pan e Jon Sobrino.





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