Jaiane Kroth*
Sob a expectativa de ser um novo
Congresso e um Congresso novo, o Congresso Continental de Teologia reuniu
teólogos e teólogas da primeira, segunda e terceira geração da Teologia da
Libertação. Entre leigas e leigos, religiosos/as, padres, bispos, jovens, o
Congresso teve cerca de 733 inscritos, de 33 países, durante os dias 07 a 11 de
outubro, na universidade Unisinos, em São Leopoldo/RS. O tema foi os 50 anos do
Concílio Vaticano II e os 40 anos da publicação do livro de Gustavo Gutiérrez
intitulado “Teologia da Libertação”
Com objetivo de discernir os novos desafios de uma época
marcada por profundas transformações, a metodologia do congresso contou com
diferentes painéis, conferencias, oficinas, apresentações de trabalhos
cientifico, curta-metragens, e momentos de espiritualidade, e propiciou um
espaço de diversidade entre os e as diferentes participantes. Os temas
abordados nas oficinas e painéis discutiram diferentes temas que tangem a
realidades dos povos latino-americanos e os povos oprimidos do nosso mundo.
O Concílio Vaticano II que teve seu
inicio declarado no dia 11 de outubro de 1962, foi um profundo processo de revisão
da Igreja Católica Romana e de abertura para a realidade do mundo. Olhar para o
mundo e perceber suas necessidades, anunciar as alegrias e esperanças
frente as realidades de injustiça e de
morte a que o mundo se encontrava. Na América Latina, o Vaticano II teve a
chamada “recepção criativa” e, com as conferencias episcopais que se seguiram
(Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida), afirmaram a opção da igreja
Latino-americana e Caribenha pelos pobres.
O Professor Dr. Libânio destacou que
a Teologia da Libertação também é o resultado das novas ideias de Ser Igreja
que o Concílio trazia para a América Latina somada a realidade de pobreza e
exclusão que flagelava a vidas das pessoas em nosso Continente. Afirma que três pontos inegociáveis para a
Teologia da Libertação são a opção pelos pobres, a liberdade de hermenêutica e
o seguimento ao Jesus Histórico.
Libânio comparou que a Teologia da
Libertação é como Teseu que entra no labirinto para encontrar o minotauro. E Teseu
ganha um fio, que nesta comparação Libânio diz que é de ouro, um fio de ouro
que não o deixa perder-se dentro do labirinto. E ele escapa do labirinto porque
o fio de ouro o salva.
Teseu é a Teologia da Libertação que
entra no labirinto ao encontro dos muitos minotauros do nosso mundo, que perseguem
e tentam matar essa teologia. Mas a TdL sabe por qual caminho voltar, sabe se defender
porque tem o fio de ouro. E o que é esse fio de ouro para a Teologia da
Libertação? Segundo Libânio é a opção pelas pessoas pobres. É a opção pelas
pessoas empobrecidas que nos salva dos minotauros do mundo, e que nos mostra qual
caminho devemos percorrer. É este fio de ouro que nos mantém coerente com o
projeto de Jesus Cristo.
Geraldina Céspedes, em sua fala na
conferencia inaugural do Congresso, afirmou que a Teologia Latino-americana e
Caribenha é um tecido novo, e nos questionou com quais cores vamos pintar esse
tecido. Também destacou que são diferentes as realidades e circunstancias que
se apresentam em nosso continente, mais uma vez questionou como a teologia se
relaciona com elas. “É preciso uma teologia mais lúdica e des-programada,
transgredir para transcender,” destacou Céspedes.
O documento final Congresso reafirma
que a Teologia da Libertação está viva e se adaptando as mudanças de tempo,
existem gritos que não foram ouvidos plenamente pelo Vaticano II e pela TdL em
seus inícios como as mulheres, os migrantes, povos originários e afro-descentes,
a juventude, e outros rostos excluídos que emergem da invisibilidade.
Certamente este Congresso marca uma nova etapa, e o desejo é que seja sob o
signo da fecundidade, fidelidade, criatividade e alegria. Saem muitos sonhos
para serem realizados, especialmente de que teólogas e teólogos jovens assumam
essa tarefa deixada pelos teólogos/as da primeira geração. Como nos lembrou Gutiérrez que essa tarefa deve ser encarada
com rigor, profundidade, e com doação de vida para as pessoas pobres.
Entramos e saímos do Congresso sabendo
que somos contra ao Capitalismo Neoliberal que promove violência e exclusão
mundial e que deixa camadas de pessoas as margens dos direitos básicos
necessários a uma vida digna. Mas, de maneira especial, saímos com mais certeza
de que muitas são as pessoas que acreditam que a Palavra Deus trás uma mensagem
de resistência e esse sistema e que, a opção pelo seguimento a Cristo implica
que também nos comprometamos com a superação desse sistema político-econômico. Assim
como ficou impresso nas palavras do documento final, o sentimento que trazemos
conosco deste Congresso é de que possamos seguir atualizando as demandas da
Teologia da Libertação, aproximando-as sempre de uma prática eclesial
comprometida com o povo. E que gravamos em nossos corações a profunda opção
preferencial pelas pessoas pobres. Que sejam elas as destinatárias especiais da
Boa Nova de Jesus Cristo.
*Jaiane, integrante da REJU Sul, (à Esquerda) com estudantes
da Faculdade EST com Peter Pan e Jon Sobrino.
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