Abaixo apresentamos dois relatos/intuições diante das manifestações que aconteceram em São Paulo (SP) nesta quinta-feira, 20 de junho. Há intuições de outros lugares? Partilhem conosco, via contato@reju.org.br!
Alexandre Pupo (Metodista, REJU-SP)
Hoje eu fui pra rua comemorar a vitória do MPL, a beleza do movimento que agregou muitos na luta e conseguiu pressionar o governo a reduzir a tarifa. Mas hoje, o que vivi na avenida Paulista me assustou. Saímos com o bloco dos partidos e movimentos sociais, ao lado do passe livre, comemorando e seguindo com os gritos de ordem da causa da mobilidade urbana, transporte e tarifa. Desde o início da marcha fomos alvo de gritos e vaias da população que fazia outro tipo de "manifestação" na paulista, gritando: "sem partido".
Eu não pertenço a nenhum partido, mas estava ali do lado das pessoas que estiveram do meu lado nos primeiros protestos, quando a polícia ainda metia bala de borracha e bomba de gás lacrimogênio, quando o Jabor ainda era contra e a globo não encerrava jornal com o "povo cantando o hino nacional na rua". Gente que estava nessa luta desde a fundação do MPL e que agora, era chamada de oportunista. Oportunista? Quem é o oportunista nesta história? O grande problema aconteceu quase na frente da Gazeta, quando um grupo de manifestantes resolveu que os partidos e movimentos sociais não podiam avançar. Objetos foram atirados, bandeiras foram rasgadas, muita violência. Até uma arma elétrica eu vi. Enquanto isso, a população envolta em bandeiras do Brasil, com a cara pintada e que gritara anteriormente "sem violência", aplaudia e reforçava o grito no "sem partido". Até a bandeira da UNIAFRO foi rasgada, as mulheres da Marcha Mundial das Mulheres foram expulsas, os movimentos sindicais e outros movimentos sociais foram expulsos.
Por fim, até o MPL retirou sua bandeira. O que ficou? O discurso vazio do ufanismo sem sentindo, as bandeiras brancas que representam as muitas ideias vazias, a camisa da seleção, o clima de copa do mundo, muita cerveja, e um belo passeio pela Paulista. Uma festa. O povo não saiu do facebook, mas transformou a Avenida Paulista num grande mural. Compartilha o que não lê, repete causas sem pensar, quem sabe criam até mesmo um joguinho. O gigante não acordou, ele se levantou e sonâmbulo caminha sem controle. Por isso, depois de tanta esperança, escrevo esse texto tão pessimista. Não sei onde isso vai parar. Tirei meu pé. É hora de sentar e conversar, discutir e articular, educar e conscientizar. Mas a população batendo palma para o fascismo, isso eu não vou esquecer.
Luciano José (Metodista, REJU-SP)
O dia seguinte
Chegando à Av. Paulista, deparamo-nos com dezenas de cartazes que misturavam pautas anti-corrupção, xingamentos contra a Presidenta Dilma e até pedidos de intervenção militar em nome da democracia e liberdade.
Quando partidos, os mesmo que junto ao MPL articularam-se contra o aumento das tarifas, praticamente que sonharam e gestaram as manifestações, entraram com suas bandeiras, naquela que seria a comemoração de uma conquista, foram rechaçados como oportunistas.
Lembrei-me da Revolução dos Bichos de Eric Blair, mais conhecido pelo seu pseudônimo George Orwell. Depois de realizada a revolução, os idealizadores e reais articuladores da revolução vão sendo perseguidos, desde o primeiro porco, acusado de traição, aos outros que vão se submetendo ao medo. E não faltam ovelhas alienadas para serem adestradas em palavras de ordem que não compreendem sequer seu horizonte gestador.
Diante disso perguntei-me, caminhando na Paulista, quem são os oportunistas? A direita estava tomando as ruas aproveitando o embalo dos militantes de esquerda e expulsando estes últimos, como se, os primeiros, fossem donos de toda movimentação. Assisti um homem com dizeres de democracia na camiseta, pular o canteiro central para tomar uma bandeira de um partido para depois queimá-la, envolto em um coro que gritava: "Sem partido!" O que faria um saudosista da ditadura ter uma ejaculação nas costuras das calças.
Vi pessoas que gritavam com um ódio tão mortal e que quando indagadas por alguns companheiros não sabiam exatamente dizer, exceto que odiavam o país corrupto e apresentavam meia dúzia de chavões contra a presidência, mas nunca contra o governo do estado. Lembrei-me de René Girard sobre a eleição de bodes expiatórios, sobre os quais grupos projetam todos os males, inclusive aqueles que não admitem dentro de si e de suas práticas sociais. Foi assim que deixei a Paulista, caminhando com a esquerda na mão direita da avenida enquanto recebíamos garrafadas de grupos de direita que o faziam em nome de sua pátria amada burguesa, que por sua vez, segue desejosa de uma pseudo democracia que faz vista grossa aos grileiros e latifundiários, demoniza gays e pobres e criminaliza os movimentos sociais, num desejo ébrio de sacrificá-los. São dotados de uma visão dicotômica da realidade e se autocompreendem como heróis.
Fonte: http://www.reju.org.br/noticias-conteudo.asp?cod=1602
Alexandre Pupo (Metodista, REJU-SP)
Hoje eu fui pra rua comemorar a vitória do MPL, a beleza do movimento que agregou muitos na luta e conseguiu pressionar o governo a reduzir a tarifa. Mas hoje, o que vivi na avenida Paulista me assustou. Saímos com o bloco dos partidos e movimentos sociais, ao lado do passe livre, comemorando e seguindo com os gritos de ordem da causa da mobilidade urbana, transporte e tarifa. Desde o início da marcha fomos alvo de gritos e vaias da população que fazia outro tipo de "manifestação" na paulista, gritando: "sem partido".
Eu não pertenço a nenhum partido, mas estava ali do lado das pessoas que estiveram do meu lado nos primeiros protestos, quando a polícia ainda metia bala de borracha e bomba de gás lacrimogênio, quando o Jabor ainda era contra e a globo não encerrava jornal com o "povo cantando o hino nacional na rua". Gente que estava nessa luta desde a fundação do MPL e que agora, era chamada de oportunista. Oportunista? Quem é o oportunista nesta história? O grande problema aconteceu quase na frente da Gazeta, quando um grupo de manifestantes resolveu que os partidos e movimentos sociais não podiam avançar. Objetos foram atirados, bandeiras foram rasgadas, muita violência. Até uma arma elétrica eu vi. Enquanto isso, a população envolta em bandeiras do Brasil, com a cara pintada e que gritara anteriormente "sem violência", aplaudia e reforçava o grito no "sem partido". Até a bandeira da UNIAFRO foi rasgada, as mulheres da Marcha Mundial das Mulheres foram expulsas, os movimentos sindicais e outros movimentos sociais foram expulsos.
Por fim, até o MPL retirou sua bandeira. O que ficou? O discurso vazio do ufanismo sem sentindo, as bandeiras brancas que representam as muitas ideias vazias, a camisa da seleção, o clima de copa do mundo, muita cerveja, e um belo passeio pela Paulista. Uma festa. O povo não saiu do facebook, mas transformou a Avenida Paulista num grande mural. Compartilha o que não lê, repete causas sem pensar, quem sabe criam até mesmo um joguinho. O gigante não acordou, ele se levantou e sonâmbulo caminha sem controle. Por isso, depois de tanta esperança, escrevo esse texto tão pessimista. Não sei onde isso vai parar. Tirei meu pé. É hora de sentar e conversar, discutir e articular, educar e conscientizar. Mas a população batendo palma para o fascismo, isso eu não vou esquecer.
Luciano José (Metodista, REJU-SP)
O dia seguinte
Chegando à Av. Paulista, deparamo-nos com dezenas de cartazes que misturavam pautas anti-corrupção, xingamentos contra a Presidenta Dilma e até pedidos de intervenção militar em nome da democracia e liberdade.
Quando partidos, os mesmo que junto ao MPL articularam-se contra o aumento das tarifas, praticamente que sonharam e gestaram as manifestações, entraram com suas bandeiras, naquela que seria a comemoração de uma conquista, foram rechaçados como oportunistas.
Lembrei-me da Revolução dos Bichos de Eric Blair, mais conhecido pelo seu pseudônimo George Orwell. Depois de realizada a revolução, os idealizadores e reais articuladores da revolução vão sendo perseguidos, desde o primeiro porco, acusado de traição, aos outros que vão se submetendo ao medo. E não faltam ovelhas alienadas para serem adestradas em palavras de ordem que não compreendem sequer seu horizonte gestador.
Diante disso perguntei-me, caminhando na Paulista, quem são os oportunistas? A direita estava tomando as ruas aproveitando o embalo dos militantes de esquerda e expulsando estes últimos, como se, os primeiros, fossem donos de toda movimentação. Assisti um homem com dizeres de democracia na camiseta, pular o canteiro central para tomar uma bandeira de um partido para depois queimá-la, envolto em um coro que gritava: "Sem partido!" O que faria um saudosista da ditadura ter uma ejaculação nas costuras das calças.
Vi pessoas que gritavam com um ódio tão mortal e que quando indagadas por alguns companheiros não sabiam exatamente dizer, exceto que odiavam o país corrupto e apresentavam meia dúzia de chavões contra a presidência, mas nunca contra o governo do estado. Lembrei-me de René Girard sobre a eleição de bodes expiatórios, sobre os quais grupos projetam todos os males, inclusive aqueles que não admitem dentro de si e de suas práticas sociais. Foi assim que deixei a Paulista, caminhando com a esquerda na mão direita da avenida enquanto recebíamos garrafadas de grupos de direita que o faziam em nome de sua pátria amada burguesa, que por sua vez, segue desejosa de uma pseudo democracia que faz vista grossa aos grileiros e latifundiários, demoniza gays e pobres e criminaliza os movimentos sociais, num desejo ébrio de sacrificá-los. São dotados de uma visão dicotômica da realidade e se autocompreendem como heróis.
Fonte: http://www.reju.org.br/noticias-conteudo.asp?cod=1602
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