A Rede Ecumênica da Juventude (REJU) tem participado e acompanhado diretamente as mobilizações protagonizadas por jovens em distintos lugares do Brasil. Uma movimentação que eclodiu a partir dos aumentos de tarifas do transporte público em cidades como Porto Alegre, Goiânia, São Paulo e Rio de janeiro. As manifestações que vêm acontecendo parecem despertar certa parte da população para problemáticas cotidianas, que ganham agora uma repercussão ampliada.
No entanto, a participação social das juventudes e de outros movimentos não é algo exclusivo desse momento. Há diferentes articulações ao longo da história recente do Brasil que demonstram a inserção dos movimentos sociais em questões estruturais da sociedade. O que parece ser novo nesta atual intervenção é a ampliação de novos atores políticos nas manifestações; os meios de cobertura desses atos (para além de uma mídia oficial); a “virada” na análise e cobertura promovidas pela grande imprensa; as novas formas de organização juvenil para além de instituições e representações.
As manifestações estão em disputa política. Há campos que desejam a vinculação desses atos com uma programática construída por partidos de tradição conservadora, numa tentativa de antecipação do debate eleitoral do próximo ano e a criação de um caos generalizado. Neste embalo também se juntam vozes que reclamam a necessidade de ser apartidário ou sem movimento, misturando apartidarismo com posturas antipartidárias e, portanto, antidemocráticas. Pois, muito embora não se sintam representados por determinados partidos, não se pode excluir qualquer representação de um ambiente plural. Além disso, também existe uma falta de compreensão de alguns campos da esquerda em compreender as novas configurações dessas manifestações, algo que se mostra na dificuldade de aproximação e vinculação das pautas históricas de seus movimentos (como a democratização dos meios de comunicação, a reforma política e o próprio passe livre no transporte público) a outras formas de se organizar e protestar.
No mosaico de reivindicações que se tornaram os atos, é preciso costurar uma pauta que faça sentido e que possa dar uma direção aos protestos. Assim, a REJU coloca-se na rua para discutir o direito à mobilidade, o direito à cidade e o direito à participação. Desta forma, demarcamos como pauta prioritária a redução dos aumentos das tarifas de ônibus, metrô e trem. Isto se relaciona com o direito à organização da juventude (em movimentos, partidos, comunidades religiosas), repudiando toda forma de violência e criminalização cometida pela Polícia Militar (algo que acontece periodicamente nas periferias das cidades); a ampliação de diálogos entre o governo e os movimentos sociais, garantido uma maior inserção das juventudes neste processo; e a inserção efetiva de políticas governamentais para a juventude.
A busca pela redução da tarifa envolve a ampliação de direitos da população, envolve a ampliação do acesso à cidade: para o trabalho, para os estudos e para o lazer. Envolve, portanto, o direito a se viver de maneira digna. A luta pela vida plena, em todos os espaços e manifestações, é herança, para a nossa sociedade, de muitas vivências de fé. E a reafirmação do valor dessa luta também é um compromisso profundamente ecumênico. Assim, é de fundamental importância a queda do valor do transporte público, mas sem o prejuízo a outros direitos, com remanejamentos de recursos e subsídios dos governos. Enquanto o debate deixar intocados os contratos e a margem de lucro das empresas, a lógica não vai se alterar. É importante que essas manifestações ajudem a repensar o próprio modelo de concessões que é implantado no Brasil há anos. É preciso se ter transparência no cálculo da tarifa e um controle sobre os contratos.
Rede Ecumênica da Juventude (REJU)
Foto: Cristiano Santos
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